Meu pai e/ou mãe tem doença de Alzheimer: e agora?

Por Dr. Leonel T. Takada

Uma das perguntas mais frequentes que ouço no meu consultório é sobre o risco de um(a) filho(a) desenvolver doença de Alzheimer, caso seu pai e/ou mãe tenham sido diagnosticados com a doença. Antes de responder a esse tipo de questionamento, pergunto sobre a idade em que o(s)/a(s) familiar(es) começaram a desenvolver sintomas da doença. Essa informação é importante porque: (1) o principal fator de risco para se desenvolver demência é a idade, e (2) existe uma correlação inversa entre a idade de início de sintomas do familiar de primeiro grau e o risco de alguém desenvolver a doença de Alzheimer.

Os sintomas da doença de Alzheimer começam – em mais de 90% dos casos – após os 65 anos de idade. Dizemos que a prevalência (frequência com que a doença acontece na população) vai dobrando a cada cinco anos após os 65 anos de idade (faixa etária em que a prevalência é de mais ou menos 1 a 2%), até que em pessoas com mais de 90 anos de idade, cerca de 40% ou mais têm sintomas de Alzheimer. Então não é infrequente que em famílias longevas, em que as pessoas vivem noventa anos ou mais, haja várias pessoas que tenham desenvolvido problemas de memória nos últimos anos de vida.

Agora, digamos que seu pai ou sua mãe tenha sido diagnosticado(a) com Alzheimer entre os 65 a 85 anos de idade: o risco de você desenvolver doença de Alzheimer é mais ou menos duas vezes maior ao de pessoas que não têm pais com a doença. Mas antes que essa informação lhe traga ansiedade desnecessária, deixe-me explicar algumas coisas importantes. Esse risco que eu mencionei é um risco relativo, e não um risco absoluto. O risco de uma pessoa de 65 anos de idade que não tenha familiares acometidos de desenvolver doença de Alzheimer ao longo da vida é de mais ou menos 10-15%. Considerando que o risco relativo é o dobro, uma pessoa que tem um pai ou mãe com Alzheimer tem um risco aumentado para cerca de 20-30%. Ou seja, mesmo considerando que o risco relativo seja o dobro, o risco de fato (absoluto) de desenvolver a doença é – na maior parte das pessoas – menor que o risco de não desenvolver a doença. Outro fator importante a se considerar é que a doença de Alzheimer é, exceto nos raros casos descritos no parágrafo abaixo, determinada por uma combinação de fatores de risco genéticos e ambientais. Não há muito o que se possa fazer quanto aos fatores de risco genéticos, então caso você tenha familiares com Alzheimer, o que você deve fazer é focar nos fatores não genéticos, especialmente aqueles sobre os quais você pode atuar ativamente. E quais são esses fatores? Os mais bem estabelecidos são: baixa escolaridade, pressão alta, diabetes, obesidade, perda auditiva, tabagismo, isolamento social, e sedentarismo. Pois então: cuidar bem da sua saúde, evitando o tabagismo e a obesidade, acompanhando regularmente sua pressão e glicemia, realizando atividades físicas e intelectuais com regularidade, e evitando o isolamento social, são as medidas que podem reduzir sua chance de desenvolver demência, independente da sua história familiar. Para ficar claro: pensando em riso de desenvolver Alzheimer, não há o que se possa fazer quanto aos fatores genéticos, então focar em cuidar bem da saúde é algo que vale para todos, e especialmente para aqueles que têm um familiar ou mais com a doença.

Uma parcela muito pequena das pessoas que têm doença de Alzheimer (estimada em menos de 1% do total de casos de Alzheimer) desenvolvem a doença devido a mutações genéticas. Nesses casos causados por mutações nos genes que codificam a presenilina 1, a presenilina 2 e a gene da proteína precursora de amiloide, ocorrem vários casos de doença de Alzheimer de início precoce (geralmente antes dos 65 anos de idade) dentro de uma mesma família. E é apenas nesse pequeno grupo que a genética tem um papel mais importante e em que devemos considerar a realização de testagem genética. Casos de Alzheimer causados por mutações são raros e há estudos em andamento que procuram entender e tentar tratar essa forma de Alzheimer. Caso você acredite que isso esteja acontecendo em sua família, entre no site, Clicando Aqui, para obter mais informações.

Referências

Roberts JS, Cupples LA, Relkin NR, et al.; REVEAL Study Group. Genetic risk assessment for adult children of people with Alzheimer’s disease: the Risk Evaluation and Education for Alzheimer’s Disease (REVEAL) study. J Geriatr Psychiatry Neurol. 2005;18(4):250-5.

Goldman JS, Hahn SE, Catania JW, et al. Genetic counseling and testing for Alzheimer disease: joint practice guidelines of the American College of Medical Genetics and the National Society of Genetic Counselors. Genet Med. 2011;13(6):597-605.

Livingston G, Sommerlad A, Orgeta V, et al. Dementia prevention, intervention, and care. Lancet. 2017;390(10113):2673-2734.

Cannon-Albright LA, Foster NL, Schliep K, et al. Relative risk for Alzheimer disease based on complete family history. Neurology. 2019;92(15):e1745-e1753