Comprometimento Cognitivo Leve

Conceito: O termo Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) é usado para descrever uma condição síndrômica de transição entre cognição normal e demência. É uma fase sintomática, porém pré-demencial de várias condições neurológicas, como a doença de Alzheimer (DA). O diagnóstico é caracterizado pela presença de queixas subjetivas de declínio cognitivo (frequentemente perda de memória), associado à evidência objetiva de alterações cognitivas em avaliação neuropsicológica (normalmente em uma intensidade leve) e funcionalidade relativamente preservada, ou seja, não preenchendo critérios para demência. Usualmente a alteração de memória não interfere nas atividades da vida diária.

Diagnóstico diferencial: O conceito de CCL é sindrômico (um conjunto de sinais e sintomas que tem diferentes etiologias), podendo ser causada por condições heterogêneas, como doenças degenerativas, lesões vasculares, doenças neuropsiquiátricas, alterações metabólicas, entre outras. Frequentemente condições como doença cerebrovascular ou lesões traumáticas podem originar CCL não progressivo, e condições como depressão e ansiedade podem originar CCL potencialmente reversível. Uma avaliação neurológica cuidadosa é fundamental para a identificação da provável etiologia do CCL.

Biomarcadores na predição da conversão para demência no CCL: Biomarcadores são variáveis biológicas (fisiológicas, bioquímicas e anatômicas) que, ao serem mensuradas “in vivo”, indicam uma característica específica de um processo patológico, nesse caso, a DA. Os principais biomarcadores disponíveis atualmente são a ressonância magnética (RM) como volumetria, tomografia computadorizada com emissão de pósitrons com 18F-fluordeoxiglicose (FDG-PET), dosagem de proteínas beta amilóde, Tau e Tau fosforilada no líquido cefalorraquidiano e tomografia com emissão de prótons com composto B de Pittsburgh marcado com [11C] (PET-PIB). Através dos biomarcadores é possível, por exemplo, diagnosticar CCL por DA, ou seja, diagnosticar com um razoável nível de certeza que a perda de memória e/ou outros domínios cognitivos se devem à patologia de DA. Apesar da utilidade clínica ainda ser menor, pelo fato de não existir tratamento que estabilize ou reverta a progressão, os biomarcadores abriram uma grande avenida para a pesquisa clínica.

Tratamento: O tratamento do CCL deve ser direcionado na etiologia por trás da síndrome. Casos secundários a transtorno depressivo devem ser medicados com antidepressivos, distúrbios metabólicos, como hipotireoidismo, devem ser corrigidos, assim como hipovitaminoses, como a deficiência de vitamina B12. Uma causa controversa, porém potencialmente tratável, recentemente sugerida como causa de CCL, é a apneia do sono. Embora algumas etiologias possam ser tratadas, não existe atualmente tratamento aprovado para o CCL. Tentativas de extrapolar o tratamento da DA para o CCLs não tiveram resultados positivos, apesar de análises de subgrupos com maior risco de conversão para DA terem mostrado benefícios limitados. Outros tratamentos como adesivos de nicotina, lítio e insulina intranasal ainda necessitam de maior evidência para o uso clínico. Medidas não farmacológicas como treinamento cognitivo e exercícios físicos possivelmente podem diminuir o risco de declínio cognitivo.

Conclusão: O CCL é um diagnóstico sindrômico de crescente importância na neurologia, podendo compreender causas potencialmente tratáveis até uma fase sintomática pré-demencial da DA. Recentes avanços com biomarcadores revolucionaram a investigação e predição do risco de conversão para demência. Entretanto, a operacionalização da síndrome necessita de melhor padronização. Apesar de ainda não existir tratamento aprovado para o CCL, a condição é um bom alvo terapêutico para novas intervenções.