Demência frontotemporal

Introdução

A demência frontotemporal é tipo de demência em que o(a) paciente apresenta mudanças na personalidade e comportamento. A demência frontotemporal é uma das principais causas de demência em pessoas com menos de 65 anos de idade, junto com a doença de Alzheimer. De modo geral os sintomas se iniciam entre os 45 e 65 anos de idade, mas podem começar mais cedo ou mais tarde. É uma doença relativamente infrequente (nos Estados Unidos estima-se que ocorra em uma a cada cinco mil pessoas entre 45 e 65 anos de idade), mas que causa significativas repercussões na vida dos pacientes (que muitas vezes ainda estão em idade economicamente ativa) e seus familiares.

Sintomas

Os sintomas se iniciam lenta e progressivamente, e muitas vezes no início os pacientes são diagnosticados como sendo portadores de doenças psiquiátricas como depressão, transtorno bipolar, ou ainda esquizofrenia. Por que os sintomas progridem lentamente, frequentemente os familiares demoram a notar que a pessoa está se comportando de maneira diferente, e que seu jeito de ser mudou.

Os sintomas são variáveis, mas tipicamente incluem:

  • perder progressivamente o interesse em realizar atividades, como trabalho, hobbies ou ir a eventos sociais;
  • ter comportamentos inadequados em público, como fazer comentários sobre a aparência de alguém, abordar desconhecidos em locais públicos e querer conversar com essas pessoas mesmo quando as pessoas claramente não querem conversar, tirar a roupa em público, parar de seguir regras de etiqueta na mesa (como comer de boca aberta ou pegar comida sem se importar com as demais pessoas na mesa), entre outros;
  • começar a seguir rotinas rígidas, como querer comer sempre determinada comida, ou em determinados horários fixos, e ficar bastante irritado(a) se não conseguir seguir a rotina;
  • tornar-se impulsivo(a), fazendo compras em excesso (muitas vezes de itens desnecessários), dirigir de maneira imprudente, ou mesmo começar a roubar coisas de lojas;
  • tornar-se uma pessoa fria e parar de se preocupar com outras pessoas (por exemplo, parecer não se importar com a doença ou falecimento de um familiar);
  • começar a ter rituais, como checar a todo instante se as portas estão trancadas, querer colocar objetos sempre em determinada ordem, começar a colecionar objetos em excesso, ou mesmo começar a levar lixo que achar na rua para casa;
  • ter mudanças nos hábitos alimentares, como começar a comer tudo o que vê pela frente, ter mais vontade que o habitual de comer doces, ou ainda começar a colocar objetos não comestíveis na boca;
  • aumento anormal do interesse em alguma religião (como querer passar o tempo todo na igreja ou templo, ou só falar sobre assuntos religiosos mesmo em situações em que isso é inadequado), ou mesmo mudança súbita de crenças religiosas (que os familiares ou conhecidos percebem como fora do normal)

É importante frisar que esses sintomas devem refletir uma mudança em relação a como a pessoa era antes. Como podem notar, algum dos sintomas relatados acima podem também aparecer em pessoas sem doença (como por exemplo pessoas que mudam de religião durante a vida ou que começam a gostar mais de doces) ou com outras doenças psiquiátricas ou neurológicas, e por isso uma avaliação médica é essencial.

Além dessas mudanças no comportamento, pode haver outros sintomas. Os pacientes podem ter dificuldade no raciocínio, como por exemplo começar a ficar com o raciocínio mais lento, ter dificuldade de se planejar ou se organizar no dia-a-dia, ou ainda tomar decisões impulsivas e inadequadas. Com a progressão da doença, alguns pacientes podem começar a ter tremores e dificuldade para andar. Cerca de 15% dos pacientes também podem ter sintomas de esclerose lateral amiotrófica (também conhecida como ELA), na qual ocorre perda de força e massa  muscular nos braços, nas pernas e/ou na musculatura da fala e deglutição.

Exames complementares

Na demência frontotemporal alguns exames de imagem do cérebro (como ressonância magnética do encéfalo, cintilografia de perfusao cerebral [SPECT cerebral] e/ou tomografia por emissão de pósitrons cerebral [PET neurológico]) podem ajudar no diagnóstico. De modo geral esses exames mostram alterações nos lobos frontais e temporais do cérebro (daí o nome demência frontotemporal).

Mas não se deve fazer o diagnóstico de demência frontotemporal baseado apenas nos exames de imagem. É imprescindível avaliar os exames junto com os sintomas do(a) paciente, e por isso a avaliação médica é fundamental. Muitas vezes é necessário fazer outros exames (de sangue, e em alguns casos, de líquido cefalorraquidiano) por que outras doenças podem ter sintomas parecidos com os da demência frontotemporal.

Genética

Cerca de 10 a 20% das pessoas com demência frontotemporal tem ou tiveram um ou mais familiares acometidos com sintomas similares. Existem algumas mutações em genes que podem causar demência frontotemporal; os mais frequentes são chamados de GRN, MAPT e C9orf72. No Brasil a testagem genética ainda está largamente restrita a centros de pesquisa (como o Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas de São Paulo), mas alguns laboratórios particulares também testam algumas mutações. É importante ressaltar que a testagem genética deve sempre ser acompanhada por aconselhamento genético.

Tratamento

Diversos centros de pesquisa ao redor do mundo tem se esforçado para encontrar medicamentos para curar ou impedir a progressão da demência frontotemporal, mas infelizmente até o momento não foram encontrados medicamentos com essas propriedades. Mas isso não quer dizer que não há nada a ser feito, pois existem medicamentos que podem ajudar nos sintomas da doença, com melhora da qualidade de vida dos pacientes e seus cuidadores. O tratamento medicamentoso da demência frontotemporal é individualizado, ou seja, cada paciente vai precisar de e se dar melhor com uma medicação ou conjunto de medicações.

 

Referências

  • Knopman DS, Roberts RO. Estimating the number of persons with frontotemporal lobar degeneration in the US population. J Mol Neurosci. 2011;45(3):330-5.
  • Rascovsky K, Hodges JR, Knopman D, e cols. Sensitivity of revised diagnostic criteria for the behavioural variant of frontotemporal dementia. Brain. 2011;134(Pt 9):2456-77.

Sites

 

Demência: condição em que há redução progressiva das funções intelectuais que leva a pessoa a deixar de ser independente, ou seja, começar a necessitar de ajuda para fazer atividades habituais da vida diária.